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As cinco prioridades do presidente ucraniano, Zelensky

by Anderson

As cinco prioridades do presidente ucraniano, Zelensky

Presidente está condenado a alimentar uma dinâmica fundamentalmente militar que condiciona sua sobrevivência

Protagonista de uma guerra que ele não começou e preso em um trem do qual não pode sair, o presidente ucraniano está hoje condenado a alimentar uma dinâmica fundamentalmente militar que condiciona sua sobrevivência.

Quando ninguém duvida que o conflito durará algum tempo, já não é pertinente para Volodymyr Zelensky negociar com a Rússia. A realidade do front ditará seu futuro, segundo analistas consultados pela AFP.

Este é um olhar sobre os eixos estratégicos desta figura carismática da resistência ucraniana.

Recuperar território

Após as primeiras semanas da invasão russa, nas quais o presidente ucraniano estava disposto a negociar, agora é o momento da guerra de enfraquecimento e fadiga das forças humanas e materiais.

“Ele está convencido de que a guerra deve seguir seu caminho, que ele tem armas e os russos debilidades”, diz Elie Tenenbaum do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

“No princípio, ele estava disposto a negociar porque tinha medo, mas agora já pegou o ritmo”, acrescentou. E isso mesmo sabendo que certamente não vai recuperar a região oriental do Donbass em 2022.

“O conceito é claro”, garante William Taylor, ex-embaixador americano na Ucrânia: “ele detém a dinâmica [russa], ele contra-ataca e volta às posições de 24 de fevereiro”.

O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, afirmou ao jornal britânico The Times que dispõe de uma força “de um milhão” de soldados.

“A decisão política de um contra-ataque já foi tomada. A campanha de libertação dos territórios ocupados começou”, afirma à AFP o analista ucraniano Anatoli Oktisiuk.

Cansar o inimigo

Os ucranianos apenas retrocedem militarmente quando não têm mais opção, como em Severodonetsk e Lysyshansk (leste). “Os ucranianos fizeram os russos pagar caro por esse território”, afirmou um responsável americano de Defesa.

Ambas as partes dão a impressão de considerar que o tempo está do seu lado. “É um assunto-chave”, confirmou à AFP Ivan Klyszcz, pesquisador na Universidade de Tartu, na Estônia. O perdedor será o primeiro que não conseguir assumir “as exigências que esta guerra impõe”.

Entre essas exigências está a logística. A Ucrânia anunciou na terça-feira que bombardeou um depósito de munições russo na região ocupada Kherson (sul).

Conservar sua aura

Ex-astro de televisão, Zelensky era muito questionado na Ucrânia antes da guerra. “As reformas não aconteciam […] e havia intrigas políticas em grande quantidade”, afirma Angela Stent, analista da Brookings Institution.

Depois, Zelensky se transformou em um comandante de guerra convincente, “utilizando evidentemente suas qualidades de ator de televisão para se comunicar bem” e esta é uma imagem que ele deve preservar.

“Não vejo nenhum indício de que [a guerra] lhe cause cansaço”, opina William Taylor. “A pressão deve ser enorme. Mas […] ele resiste.”

“Todo o mundo concorda que sua força reside na relação que estabelece com o povo ucraniano”, acrescenta.

Ivan Kliszcz diz que Zelensky não mostra “uma deterioração mental, emocional e física”, em benefício da imagem de um “líder determinado, concentrado e comprometido a vencer a guerra”.

Manter a unidade ucraniana

Contudo, é preciso manter essa unidade apesar das mortes, das privações e do medo. Por ora, ninguém fala de negociações, destaca Taylor.

“Mas isso não quer dizer que não haverá” negociações, como em qualquer conflito duradouro. “Há um limite para o sofrimento, mas [os ucranianos] ainda não chegaram a esse ponto.”

As divisões poderiam aparecer na sociedade ucraniana entre as partes que se opõem a qualquer concessão territorial e as outras. A negociação só pode ser proposta “por forças pró-russas na Ucrânia, que agora estão marginalizadas”, assinala Anatoli Oktisiuk.

Mas o cansaço da opinião pública vai aumentar se o conflito durar. “O custo da guerra se tornou mais evidente para a população ucraniana e os diferentes atores políticos”, enfatiza Kliszcz, que também destaca que existem desacordos, mas que são confidenciais.

“O campo de batalha poderia ameaçar esta unidade”, acrescenta.

Convencer o Ocidente

A guerra acelerou consideravelmente a aproximação entre a Ucrânia e os países ocidentais. A ex-república soviética obteve o status de candidata a integrar a União Europeia.

O presidente Zelensky sabe o que deve aos ocidentais. Ele joga com o peso da guerra para o futuro da Europa. “Sua mensagem […] é que está lutando por nós […] e estou seguro de que ele acredita nisso”, afirma Taylor.

Mas o apoio dos Estados Unidos até o Reino Unido, passando por França e Bélgica, só vai persistir se o exército ucraniano marcar seu encontro com a história.

Caso triunfe com sua ofensiva, “muitos vão se animar diante da perspectiva de que a Ucrânia consiga recuperar território”, destaca Michael Kofman, do centro de reflexão americano CNA.

Por outro lado, em caso de fracasso, muitos considerariam que a saída estará “na mesa de negociações”.

AFP

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